Na abertura da programação do dia 8 de março, o Presidente da ANAFE, Lademir Rocha, destacou que o Dia Internacional da Mulher continua sendo extremamente necessário. Segundo ele, o Direito não é neutro e, se não estivermos atentos, ele pode ser um instrumento de regressão social. Lademir trouxe dois exemplos para reflexão: a discussão recente sobre a legitima defesa da honra e o caso da Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP).
Parabenizando as Advogadas Públicas Federais, que desempenham papel de extremo relevo na construção das lutas e na edificação da Advocacia Pública como uma Advocacia de Estado, o Presidente convidou todos a assistirem um vídeo de homenagem às associadas.
Lademir também destacou as celebrações do dia 7 de março, o Dia Nacional da Advocacia Pública, e os cinco anos de existência da ANAFE em defesa dos Advogados Públicos e do aprimoramento Institucional da Advocacia Pública e do Estado Democrático de Direito: “Reafirmo o compromisso da nossa Associação em continuar lutando em defesa de quem defende o Brasil.”
LIVE QUANDO PROTEGEMOS UMA MULHER, SALVAMOS TODAS NÓS
A sororidade e o acolhimento às mulheres não são tarefas fáceis e exigem união e mudanças de comportamento de todos. Nesse sentido, a primeira parte da programação da ANAFE em homenagem ao Dia Internacional da Mulher teve o título “Quando protegemos uma mulher, salvamos todas nós”. A temática foi debatida em live no Instagram da entidade, realizada entre a Coordenadora do Centro de Estudos da ANAFE, Cynthia Pereira de Araújo, e a roteirista da série “Em nome de Deus” (Globoplay 2020), Camila Appel.
Ao início da conversa, Camila Appel realizou um breve resumo sobre a série documental “Em Nome de Deus”, que está sendo transmitida na Globo, e que traz depoimentos de abusos sexuais cometidos por João Teixeira de Faria, mais conhecido como João de Deus. Camila destacou que ficou muito chocada ao perceber como uma pessoa mundialmente conhecida houvera deixado um rastro de abusos e impunidade. “Foi muito frustrante descobrir que várias mulheres já haviam tentado denunciar”.
A Coordenadora do Centro de Estudos da ANAFE, Cynthia Araújo, falou sobre um segundo tipo de violência, que é quando a mulher é desacreditada sobre o abuso sofrido. “Ela passa pela primeira violência, que é a agressão, e passa pela segunda, que talvez seja até pior para dignidade dela, por ela ter sido abusada, agredida e violentada e as pessoas se recusarem a acreditar. Isso é algo que me chama muito atenção e que é destacado na série: para que se acredite numa mulher, é necessário que muitas digam a mesma coisa”.
A série “Em nome de Deus” traz relatos de abusos e de uma rede de proteção ao abusador. Camila explicou a importância de se identificar as pessoas que sofrem as violências e incentivar as denúncias. “Não podemos nos calar e achar que é assim que as coisas são, apenas porque culturalmente sempre fomos submetidas a esse tipo de violência. Não é assim que as coisas devem ser”.
De acordo com ela, participar da produção foi uma experiência emocionante. “No final de cada depoimento, vimos a exaustão física e emocional, mas, acima de tudo, alívio. Isso foi muito mais bonito do que os traumas e pesadelos ali mostrados.”
Cynthia questionou sobre temas como machismo estrutural, cultura da impunidade e “desacreditação”. A roteirista da série lembrou que muitas pessoas ainda acham que, quando uma mulher relata um abuso, ela está em busca de uma suposta exposição que a beneficie. E afirmou: “É surreal achar que as mulheres querem, com uma denúncia, se destacar de alguma forma. Devemos pensar e dar meios jurídicos para as mulheres terem segurança para denunciar. Hoje é um dia para pensar nisso, em nos ajudar, em nos dar as mãos. Isso é muito importante. Gosto da frase que tem sido repetida: Ninguém solta mão de ninguém”.
Camila destacou, também, o aumento no número de violência contra a mulher no último ano e destacou avanços como a ouvidoria nacional, o disque-denúncia e as delegacias da mulher. A Coordenadora do Centro de Estudos lembrou que pelo menos uma a cada cinco mulheres no mundo já foram violentadas física ou sexualmente e que, em mais de setenta por cento dos casos, os agressores pertenciam ao vínculo afetivo da vítima.
Ao final da live, Cynthia agradeceu em nome da ANAFE pela participação de Camila Appel e desejou a todas um feliz Dia da Mulher.
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