Discutir os desafios e espaços que as mulheres ocupam na Advocacia Pública foi o centro do debate realizados no quadro Conexão ANAFE nessa quarta-feira (2). A live mediada pelo presidente da Entidade, Marcelino Rodrigues, contou com as participações das Procuradoras da Fazenda Nacional fundadoras do grupo “Tributos a Elas”, Herta Rani e Lana Borges.
Ao início do encontro virtual, Marcelino Rodrigues destacou a honra de apresentar o projeto formado dentro da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional com o objetivo de estudar, pesquisar, debater e dar visibilidade para as mulheres em várias dimensões.
Lana Borges, coidealizadora e cofundadora do Tributos a Elas, ressaltou que o movimento busca trocar informações que motivem homens e mulheres a pensarem sobre questões como desigualdade de gênero e equalização de oportunidades. “Sempre me incomodou muito ver os ambientes predominantemente masculinos. Estamos acostumados a enfrentar isso com certa naturalidade. A partir daí, comecei a me questionar e trouxe essa preocupação para o movimento”, disse.
Em seguida, Herta Rani, que também é coidealizadora e cofundadora do Tributos a Elas, explicou que faltam mulheres nos cargos de gestão, e falou da pouca representatividade feminina nos espaços de decisão e de políticas públicas que deveriam ser ocupados por mulheres.
Herta expôs sobre o quanto, de forma inconsciente, o conjunto de preconceitos baseados em experiências anteriores e construções sociais atrapalha o desenvolver da mulher e apresentou situações corriqueiras de ocorrências vivenciadas por mulheres, como, por exemplo, quando os homens se apropriam de argumentos de mulheres sem dar o devido crédito, definido como bropriating.
COMPROVAÇÃO EM DADOS
De acordo com Lana Borges, em 2019 foi publicada uma pesquisa no Valor Investe que traz a informação de que a desigualdade entre homens e mulheres vai demorar 59 anos para desaparecer na América Latina. No Brasil, esse tempo pode ser ainda maior. Ela explicou, ainda, que a participação efetiva e produtiva das mulheres, além da igualdade numérica no acesso às carreiras, não se traduz em igualdade de tratamento, de oportunidades e de ascensão dentro da carreira. “Dentro da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), para assunção de cargo de Direção e Assessoramento Superior (DAS) 2,3 e 4, existe um processo seletivo simplificado. Dados coletados, hoje, mostram que, de 25 cargos para coordenadores-gerais, apenas quatro cargos são ocupados por mulheres, um índice de 16%. Existe uma paridade? Não. A resposta é numérica”, complementou.
Foi apontada, ainda, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo IBGE, que revelou que as mulheres que trabalham fora de casa se dedicam 10 horas a mais que os homens em tarefas não remuneradas. Segundo o LinkedIn, para se candidatar a um emprego, as mulheres sentem que devem cumprir 100% dos requisitos, enquanto os homens candidatam-se ao trabalho se considerarem que cumprem 60% dos requisitos. “Isso demostra mulheres capacitadas que deixam de participar e oferecer seus potenciais de trabalho”, afirmou Lana.
Herta trouxe também exemplos de outras estruturas, “como da Câmara dos Deputados, onde, de 513 deputados, só 77 são mulheres. Já a bancada feminina do Senado conta com apenas 12 senadoras nesta Legislatura, o que corresponde a apenas 14,8% do total de 81 cadeiras. Além das pouquíssimas governadoras mulheres”.
As participantes da live agradeceram pelo convite enfatizando que a ANAFE foi a primeira associação a dar espaço e apoio à iniciativa. “O projeto nasceu logo após um evento em novembro do ano passado, estamos caminhando e já angariando apoios dentro e fora da carreira. É o que sempre falamos, mulheres unidas se fortalecem ainda mais em sororidade. Obrigada.”
Ao final, o presidente da ANAFE, Marcelino Rodrigues, elogiou a iniciativa e colocou a entidade à disposição. “Gostaria de parabenizar pela ação inovadora. Esse debate foi muito importante, baseado em dados. Temos que discutir esses temas tão relevantes e avançar na temática.”
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