Entrevista especial contou com participação do cineasta Renato Barbieri, diretor do filme “Pureza”, que fala sobre o drama da situação baseado numa história real
No aniversário de 134 anos da Lei Áurea, pela abolição da escravatura, o Brasil enfrenta um choque de realidade: o estado lidera o ranking de pessoas em situação de trabalho análogo à escravidão. Segundo o Radar SIT, Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho no Brasil, 500 trabalhadores foram resgatados nessa condição degradante este ano. E é essa a situação que foi tema de debate de uma entrevista especial da Comissão de Diversidade da Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais (ANAFE), com o cineasta Renato Barbieri, diretor do filme “Pureza”, atualmente nos cinemas.
Recentemente a Comissão iniciou uma campanha contra o trabalho escravo contemporâneo e baseou-se em muitas ideias do filme para conscientizar o público e associados. O longa “Pureza” é baseado na história real de Pureza Lopes Loyola que, durante três anos, desafiou todos os perigos para encontrar seu filho e se tornou um símbolo do combate ao trabalho escravo.
Numa entrevista especial, Antonio Machado, coordenador da Comissão, e Antonio Pedro, procurador federal, conversaram com o diretor para entender a fundo a história, inspirações e processo de desenvolvimento do filme.
Barbieri é cineasta e diretor de criação da GAYA Filmes, sediada em Brasília. Como diretor, produtor e roteirista, realiza filmes de longa-metragem e séries para TV nos formatos ficção, documentário e animação, sempre tendo como foco principal produtos audiovisuais de relevância social e ambiental.
Sobre “Pureza”, o diretor conta que o filme é um híbrido entre realidade e ficção. “Foi um longo caminho até chegar na dona Pureza. Em nosso primeiro encontro, ela me apresentou o seu baú de arquivos com provas, vídeos, fotos, cartas e recortes de jornal. Pureza chegou a escrever cartas aos presidentes Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso denunciando sua situação. Quis refazer o caminho dela, as cidades onde ela esteve, as pessoas que ela teve contato. Entrevistei diversos trabalhadores na região e tive contato com relatos de uma desumanidade imaginável”, afirma.
Entre suas referências, destaque para os filmes Central do Brasil e Jardineiro Fiel, que também se baseiam em dramas sociais. “O real nos humaniza. A experiência de campo como documentarista, de puxar fios de uma realidade que não faz parte das nossas rotinas, indo para o Brasil profundo, torna a questão algo pessoal. Nosso objetivo foi trazer essa realidade para dentro das casas”, explica Renato.
Para ele, a brasilidade é algo que precisamos investigar e valorizar. “Já estou trabalhando em novos projetos”, garante. “Parabenizo esses heróis e heroínas, agentes de estado, dos movimentos sociais e populares, do terceiro setor, que possuem capacidade de fazer a diferença e contribuir para um mundo melhor.”
Confira a entrevista completa em https://youtu.be/oJD1ejGA3uE
ENTENDA
Atualmente, mais da metade da população brasileira vive, em algum grau, situação de insegurança alimentar, e 9% sofre insegurança alimentar gravíssima, segundo levantamento do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19. Esse cenário facilita a atuação de aliciadores. Ainda segundo os estudos, 80% das vítimas de escravidão são negras, 47% nordestinas e 6% analfabetos, como mostra a Inspeção do Trabalho.