Em live da Comissão da Mulher da ANAFE, realizada na última sexta-feira (7), especialistas debateram temas relacionados à saúde da mulher, exaltando que “A amamentação é importante na criação de vínculo afetivo e na recuperação pós-parto”.
A consciência de que a saúde da mulher vai muito além de apenas o período dedicado à maternagem infantil é algo que merece atenção em vários âmbitos da sociedade. Na última sexta-feira (7), três especialistas discutiram estes temas tão importantes na live “Parto, amamentação e saúde da mulher”, realizada pela Comissão da Mulher da Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais (ANAFE).
O Brasil é o segundo país com a maior taxa de cesáreas do mundo, ultrapassando 55% dos partos. O dado é da Organização Mundial da Saúde (OMS) e vai contra o recomendado pela própria agência – uma taxa de 10-15% de cesarianas. Neste sentido, a doula e instrutora de yoga para gestantes, Priscilla Vicenso, reforçou a importância da figura da profissional que acompanha a gestante durante todo o período de gravidez, parto e pós-parto, além de apoiar, encorajar, oferecer conforto e suporte emocional. Para ela, a doula tem papel também de desmistificar o parto e a gestação como questões de saúde hospitalar, ajudando a mulher a entender o processo do próprio corpo. “São utilizadas técnicas de movimentação corporal para criar um ambiente de segurança durante o parto para que possa acontecer o máximo possível dentro da maneira que ele foi imaginado pela mulher. A doula ajuda a mulher a construir o parto que ela quer viver”, explicou. A especialista associou o aumento de casos de depressão pós-parto ao grande número de cesarianas e de experiências de mulheres que não passam pelo processo adequadamente.
O aleitamento materno é outra importante pauta da saúde feminina e estudos comprovam que a amamentação a longo prazo poderia salvar mais de 800 mil vidas de crianças a cada ano, no mundo. Algumas questões apontadas pela enfermeira Somaya Brasileiro foram a influência da amamentação na boa recuperação após o parto, na proteção contra câncer de mama, ovário e útero, na promoção do vínculo afetivo entre mãe e filho, e no melhor desenvolvimento da cavidade bucal do bebê. “A sociedade pune muito a mãe que amamenta por mais de dois anos, mas só ela sabe até quando ela deve ir. O mesmo acontece com mães que não conseguiram amamentar o seu filho. A mulher deve ser respeitada”, disse. Para a especialista, o sucesso da amamentação não é responsabilidade somente da mulher. “A promoção da amamentação é uma responsabilidade coletiva social. Amamentar é um ato de aprendizagem”, ressaltou.
Em uma sociedade que ainda desvaloriza as necessidades femininas, há que se falar na importância de políticas públicas que podem favorecer e ser motivo de reivindicação das mulheres no Brasil. Na opinião da sanitarista da Rede Feminina de Saúde, Ligia Cardieri, ao longo dos anos, houve uma diminuição do número de mulheres engravidando e ainda existem discriminações que reforçam o silêncio feminino para lidar com questões complexas. “A condição da saúde da mulher é muito afetada pela sua opressão de gênero”, pontuou. Na visão da especialista, há ainda muitos problemas relacionados à violência obstetrícia. “São atos, muitas vezes, discretos, mas que desrespeitam muito o contexto da mulher no momento da gestação e do parto. É necessário um trabalho educativo de empoderamento feminino no combate a violências como essas”, concluiu.
A live foi mediada por Herta Rani, Patrícia Cardieri, Susana Lucini e Graziela Rosal, integrantes da Comissão da Mulher da ANAFE. A transmissão completa pode ser acessada: