Evento que ocorreu nesta sexta-feira (25), foi promovido pela associação, em parceria com a ANADEF e com o CEJUC/DF e contou com presença ilustre da deputada Erika Kokai
A verdade é que tudo fica mais leve e interessante quando compartilhado. Celebrando o Agosto Lilás, mês de conscientização pelo fim da violência contra a mulher, a Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais (ANAFE), por meio da sua Comissão de Mulheres, promoveu, nesta sexta-feira (25), uma roda de conversa em sua sede para falar sobre os tratamentos dos conflitos raciais e de gênero e a efetividade das políticas públicas inclusivas. A ação contou com o apoio da Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos Federais (ANADEF) e do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUC/DF).
Participaram do evento como convidadas especiais a desembargadora Gilda Seixas, a juíza Rosimayre Carvalho, a mestra em linguística, Gina Alburquerque, a procuradora federal, Simone Schnor, e a defensora pública, Alessandra Wolff.
Designada pela presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil, Rosa Weber, para tocar uma ouvidoria voltada ao público feminino, Gilda Seixas reforçou a necessidade dos canais de comunicação para que as mulheres consigam sair de situações de conflito. “Precisamos criar canais para que alguém estenda a mão àquela pessoa que está numa situação complicada e precisa acordar para um outro mundo.” Segundo ela, a promoção de políticas públicas apoia diversas mulheres que sofrem algum tipo de violência, como assédio, e reprimem os assediadores.
“O mundo da mulher ficou escondido e é preciso falar mais o que somos. Hoje é uma oportunidade de falarmos com pessoas altamente qualificadas, que já se posicionaram no Congresso Nacional e nos fizeram sair desse olhar oculto, sobretudo no cenário do sistema de justiça, representando a força feminina dentro dele”, pontuou a juíza Rosimayre Carvalho.
Uma em cada 5 mulheres (20,2%) afirma que tem muita chance ou chance média de ser vítima de agressão sexual, indica o Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Observando esses e outros números, a defensora pública, Alessandra Wolff, lamenta que os marcos legais, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio não sejam suficientes. Para ela, é necessário a criação de políticas públicas e uma atuação articulada das instituições e de todos os agentes de poderes. “A defensoria pública desempenha uma função essencial no acolhimento, defesa e assistência às mulheres vítimas de violência. Elas podem recorrer a benefícios assistenciais e previdenciários que são essenciais para quebrar o ciclo de dependência econômica que, muitas vezes, as prendem num relacionamento. Aumentar a posição das mulheres em espaços de poder é essencial para viabilizarmos políticas públicas. Afinal, nada melhor do que uma mulher para lutar por ela mesma”.
“Todas as estruturas sociais precisam de educação para transformar essa realidade”, afirmou a mestra em linguística, Gina Alburquerque. Em seu discurso, Gina relembrou seu reconhecimento na promoção de educação focada na igualdade de gênero. “Precisamos repensar a educação se quisermos mudar a cultura. A primeira feminista que eu conheci, não sabia nada sobre o assunto: minha mãe. Eu sei que nasci num país totalmente desigual e tive a sorte de ter uma família que entendia as opressões de gênero”, disse. A especialista dedicou a sua carreira a entender modelos educacionais e a propor outros paradigmas. “Criei, em 2014, o projeto Mulheres Inspiradoras, com o objetivo de romper os paradigmas de que as histórias foram construídas apenas por homens. Foram meninos e meninas conhecendo a biografia de dez mulheres, que enfrentaram o patriarcado. Queria dizer que, em qualquer idade, temos o direito de sermos protagonistas da nossa história.”
Participante do Instituto Empoderar, a procuradora federal, Simone Schnor, se dedica a estudar dados sobre as mulheres que, segundo ela, muitas vezes não são verdadeiramente mostrados. “Acredito muito nessas redes de apoio e na criação de espaços de fala. Os altos cargos não são ocupados por mulheres. Precisamos estar nesses espaços, ter representatividade. Precisamos enfrentar o teto de vidro para termos mais oportunidades.”
Presença ilustre no evento, a deputada federal Erika Kokai (PT/DF), também participou da roda de conversa e relembrou do passado do Brasil e da luta por preconceitos. “Precisamos reconhecer que temos um racismo, um sexismo e um patriarcado estrutural, ainda representados por homens. Não há meritocracia sem igualdade e sem as mesmas oportunidades. É necessário identificar as paredes de vidro para que possamos romper um processo extremamente legitimador da desigualdade: a culpabilização, seja ela da mulher ou do negro”, alertou.
“É em nome da Marielle Franco, que dizia que não seria interrompida. Em nome de Margarete Alves, que falava sobre medo. É em nome da Mãe Bernadete, assassinada com 12 tiros no rosto, que precisamos nos levantar para exigir políticas públicas, estimular protagonismos e romper ideais reproduzidos por aparelhos do estado, que nos tiram a humanidade”, finalizou.
Confira o evento na íntegra em https://is.gd/xHNzUs.
Conheça os currículos das palestrantes
Gilda Maria Sigmaringa Seixas – Desembargadora Federal, Presidente da Comissão TRF1 Mulhres e Diretora da ESMAF/TRF1;
Rosimayre Gonçalves de Carvalho – Juiza Federal, Coordenadora do Cejuc/NPR/Ceint/DF e Mestranda em Direitos Humanos-UFPB;
Gina Vieira Ponte de Albuquerque – Mestra em Linguística, especialista em desenvolvimento humano, educação e inclusão escolar e idealizadora do Projeto Mulheres Inspiradoras;
Simone Salvatori Schnorr – Dedicação exclusiva na Procuradoria Federal Especializada da Autoridade Nacional de Proteção de dados, Sócia Fundadora do Instituto Empoderar e membra da Comissão da Mulher da Anafe;
Alessandra Lucena Wolff – Defensora Pública Federal, Vice-Presidente da ANADEF, Coordenadora do GT Mulheres da DPU entre 2020 a 2021.