Evento na sede da associação marcou a data com roda de conversa e o lançamento do livro “Encruzilhadas de Raça e Gênero”
Em celebração ao Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e ao Dia Nacional de Tereza de Benguela, a Comissão de Diversidade da ANAFE, em parceria com o Grupo de Trabalho de Igualdade Étnica e Racial da Advocacia-Geral da União (AGU), promoveu, na última sexta-feira (25), o evento “Mulheres Negras que Inspiram: Lideranças e Transformações nos Poderes Públicos”. A atividade, que reuniu mais de 70 participantes na sede da ANAFE, contou com importantes debates, o lançamento do livro “Encruzilhadas de Raça e Gênero”, de Fernanda Cordeiro de Oliveira, além de sorteios de brindes para os presentes.
A data, reconhecida internacionalmente desde 1992 e instituída no Brasil pela Lei 12.987/2014, simboliza a luta de mulheres negras contra o racismo e o sexismo. Durante o evento, foram compartilhadas experiências pessoais, conquistas e desafios enfrentados por mulheres negras que atuam em cargos de liderança no serviço público.
A abertura foi conduzida pela Coordenadora da Comissão de Diversidade da ANAFE, Fernanda Marques, que destacou a importância do protagonismo feminino negro nas instituições: “Assim como Tereza de Benguela, que transformou dor em luta e resistência, este evento nos lembra que mulheres negras movem estruturas, constroem pontes e abrem caminhos para o futuro. Seguimos determinadas a ocupar todos os espaços de decisão, promovendo mudanças reais para um Brasil mais justo e representativo.”
Estiveram presentes representantes de diversas entidades comprometidas com a equidade racial e de gênero, fortalecendo o diálogo interinstitucional:
• Grupo de Trabalho de Igualdade Étnica e Racial da AGU, com a presença das Dras. Cláudia Trindade, Assessora Especial de Diversidade e Inclusão da AGU, e Manuellita Hermes, Coordenadora do GT – ambas associadas à ANAFE;
• ANAMATRA – Associação Nacional das Magistradas e dos Magistrados da Justiça do Trabalho, representada pela Juíza Dra. Roberta de Oliveira Santos;
• ANPT – Associação Nacional dos Procuradores e das Procuradoras do Trabalho, representada pela Procuradora do Trabalho Dra. Juliana Gois;
• ANADEP – Associação Nacional dos Defensores Públicos, representada pela Defensora Pública Dra. Mayara Tachy;
• ANAPE – Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, representada pela Dra. Brígida Mascarenhas;
• Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, representado pela Dra. Isadora Nascimento;
• OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, com a presença das Dras. Nildete e Sthefay, do Dr. Gabriel Vieira Borba e do Dr. Ábiner;
• ANADEF – Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos Federais, representada pela Dra. Luciana Dytz;
• SINDIRECEITA – Sindicato Nacional dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil, representado pelas Dras. Denise Rodrigues de Figueiredo, Eika Nacarenhas Gimenes, Iêda Maria de Miranda, Jayana Felix, Kátia Rosana Silva, Maria Elena Miranda, Marlenede Fátima Cambraia e Verônica da Silva Oliveira.
DESIGUALDADE AINDA MARCA O CENÁRIO DE LIDERANÇA
Durante o debate, foram destacados dados da pesquisa Mulheres Negras na Liderança, realizada pelo Pacto Global da ONU Brasil em parceria com a 99jobs. O levantamento mostra que 81% das empresas brasileiras têm, no máximo, 10% de mulheres negras em cargos de liderança. Além disso, 70% das entrevistadas relataram ter homens como chefes imediatos.
“Estar só, falando de si, cansa. Hoje, finalmente, estou na sala da minha casa, da ANAFE, com essas mulheres negras maravilhosas. Poder me irmanar e ter essa energia comigo é o sucesso”, iniciou a Coordenadora do grupo de trabalho no Comitê de Diversidade da AGU, Manuellita Hermes.
A Deputada Federal Carol Dartora também participou da roda de conversa e destacou os impactos da ausência de referências negras em sua formação: “Cresci sem me ver na escola, na faculdade, no trabalho, na política. Representatividade continua sendo essencial. A nossa luta por igualdade acumula responsabilidades e sobrecarga, mas seguimos firmes, comprometidas com a transformação das nossas vidas.”
A Juíza Mara Lina do Carmo lembrou que o encontro de magistrados negros, citado por Adriana Cruz, foi um divisor de águas em sua trajetória: “A partir dali, senti a necessidade de atuar diretamente com a pauta racial.”
A Juíza Federal Adriana Cruz, Secretária-Geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ressaltou a importância das políticas institucionais no Poder Judiciário: “Atuamos nas frestas, nas rachaduras, pautando nossas questões que vão penetrando nas estruturas. Uma coisa que ninguém segura é quando a água resolve se infiltrar.”
A Assessora Especial de Diversidade e Inclusão da AGU, Cláudia Trindade, fez um apelo por mudanças estruturais: “Essa luta nos cansa, mas fazemos isso para que as nossas filhas tenham uma vida mais leve e um acesso que não seja só a representativa, a cota, a única nos lugares. Nós não queremos ser as únicas, queremos muitas mulheres conosco – e estamos trabalhando para isso.”
A Promotora de Justiça Karoline Bezerra, do Ministério Público do Estado do Pará, emocionou-se ao relatar sua trajetória: “A casa onde a minha mãe trabalhava era a casa onde a mãe dela foi escrava. Eu sou a primeira da minha família a conquistar o ensino superior. A importância desses projetos de política pública é enorme – eu sou fruto de um deles.”
A Advogada Isadora Nascimento, consultora em inclusão e autodescrição, alertou para os desafios da permanência nos espaços conquistados: “Nos especializamos, mas somos constantemente questionadas. Que o dia de hoje seja não apenas de celebração, mas também de reflexão sobre o que ainda precisa mudar.”
A Procuradora do Trabalho Juliana de Oliveira falou sobre a importância das redes de apoio: “Estar ao lado de mulheres que, além do trabalho técnico, também se engajam na luta coletiva, é um privilégio. Se fortalecermos os pequenos quilombos dentro das instituições, todos ganham.”
A Defensora Pública Mayara Tachy ressaltou as dificuldades enfrentadas por mulheres negras em ambientes opressores: “O cansaço existe porque estamos sozinhas. Se pararmos de falar sobre isso, colocam um homem branco no nosso lugar. Estar aqui é resultado de muita luta.”
Encerrando a roda de conversa, a Advogada Marcelise Azevedo, que atua nos tribunais superiores desde 1997, destacou a importância do legado familiar: “Sou advogada graças às barreiras que meu pai superou. Quero sair da advocacia produzindo presenças e lideranças.”
PRESIDENTE DA ANAFE REAFIRMA COMPROMISSO COM A INCLUSÃO
Durante o evento, o Presidente da ANAFE, Vitor Chaves, reforçou o papel da associação na promoção da diversidade e da equidade racial: “A ANAFE sempre foi um ponto de apoio para quem luta por inclusão. Como homem negro, faço questão de dizer que, ainda que nem sempre as agendas coincidam, essa é uma pauta que me mobiliza – e mobiliza toda a diretoria. Cada detalhe da nossa gestão é pensado para ampliar oportunidades.
A vida em uma entidade classista não pode se restringir à defesa do ganha-pão. Precisa ser maior. Nossa associação nasceu com vocação inclusiva, e a agenda de inclusão de todas as minorias seguirá sendo central para nós.”
Ao final, Chaves agradeceu às participantes e convidou o público a continuar acompanhando a programação: “Agradeço a todos e todas que abrilhantaram este momento. Sigamos juntos na construção de um futuro mais justo e plural.”
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