O que é lugar de fala?
Foi com a pergunta instigadora, “o que é lugar de fala?” que iniciaram a 6ª edição do “Café e Prosa com Elas” da PF/PA, no último dia 14, evento patrocinado pela ANAFE.
Abordaram o tema, Sandra Suely Moreira Lurine Guimarães, Professora Adjunta do Instituto de Ciências Jurídicas da UFPA e Yanne Teles, Professora, advogada, doutoranda em Ciências Jurídicas e Políticas pela Universidade Pablo de Olavide, em Sevilha, Espanha, mestra em Direitos Humanos e Conselheira Federal da OAB.
Sandra Guimarães iniciou a prosa dizendo que seu lugar de fala é “a partir do lugar social que ocupa, que é o lugar de mulher negra”. Mostrou que na sociedade há uma estruturação social, decorrente de uma estruturação racial que silencia certas vozes e que por isso, os grupos subalternizados, que estão sub representados são “falados” por outros. Nesse sentido, “pensar lugar de fala seria romper com o silêncio instituído para quem foi subalternizado, um movimento no sentido de romper com a hierarquia, (…)”. Assinala que mesmo na luta por direitos, as mulheres brancas alcançaram espaços antes das negras. Por isso, ressalta que é necessário pensar “quem são as mulheres que estão nos espaços de poder, prestígio e decisão? Sandra coloca que: “Nós temos uma estrutura onde primeiro vem o homem branco, a mulher branca, o homem negro e por fim a mulher negra.” Então, essa discussão sobre lugar de fala como escreve Gisele Marques deve nos levar a “consciência do papel do individuo nas lutas, criando uma lucidez de quando você é protagonista ou coadjuvante no cenário de discussão. Não há silenciamento de vozes (…)”. “O lugar de fala permite o protagonismo de alguns sujeitos e oportuniza a escuta respeitosa do outro.”
Yanne Teles coloca que “lugar de fala é um lugar que confere legitimidade, mas que não pode ser exclusividade, senão vai ser reserva de mercado. (…) A luta identitária tem seu lugar e somente quem sofre sabe a sua dor”. A pergunta que faz é: Eu posso falar? Como posso ajudar? Para ela a luta maior é contra a desigualdade social, sendo fundamental a luta contra a pobreza, a luta de classe, e por isso, coloca-se como aliada nas lutas das minorias nos espaços que ocupa.
A Procuradora-Chefe da Procuradoria Federal no Estado do Pará, Patrícia Cruz enfatiza a importância da contribuição das palestrantes e conclui que: “Tudo que se quer neste espaço (do Café e Prosa) é ouvir diferentes pontos de vista e a partir disso, chegar num caminho(…), dialogar e construir.”