Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta quarta-feira (8), a Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais (ANAFE) entrevistou duas Advogadas Públicas Federais, uma Procuradora Federal aposentada, no auge dos seus 85 anos, e uma Advogada da União, de apenas 26 anos, sobre os desafios e conquistas na carreira.
Confira:
- LUCILA DE SOUZA MOREIRA CALDAS – PROCURADORA FEDERAL APOSENTADA – 85 ANOS
– Como foi a escolha pela carreira?
A escolha pela carreira teve grande influência do meu pai, que na época me pediu para fazer Direito. Graças a Deus e à visão maior do meu pai, fui muito bem sucedida e sou muito feliz com essa profissão que exerço até hoje.
– Como era a carreira quando a senhora ingressou?
No começo foi muito difícil, pois comecei num órgão que não tinha muita estrutura. Ingressei em outra carreira e fui sendo classificada até conseguir passar no concurso para exercer a advocacia.
– Como a senhora vê o papel da Advogada Pública Federal nos dias de hoje?
As Advogadas Públicas Federais desempenham uma função extremamente importante em diversas naturezas como no combate à corrupção, na recuperação de verbas desviadas e orientação jurídica. Me orgulho, por exemplo, de ter desapropriado uma BR para proteger o espaço territorial do meu Estado, são atuações como essas que nos enchem de orgulho. Mesmo tendo que nos dividir em vários papéis, nós mulheres temos, cada dia mais, conquistado muitos espaços e realizando um excelente serviço à Administração Pública.
Nunca sofri nenhuma limitação pelo fato de ser mulher, consegui conciliar muito bem a vida pessoal e profissional. Me casei, tenho duas filhas e minha neta é Defensora Pública, segundo ela, a inspiração veio de mim, sou o orgulho dela e ela o meu.
– Como a senhora vê a questão das prerrogativas da Advogada Pública Federal?
Excelentes, temos muitas oportunidades de trabalhar nessa área tão vasta. Temos crescido e mostramos diariamente nossa força para lutar por nossos direitos e prerrogativas.
– Quais conquistas devem ser comemoradas neste Dia Internacional da Mulher?
Em primeiro lugar temos que comemorar o direito de voto para as mulheres que foi uma conquista inigualável, as melhorias nas condições de trabalho e direitos sociais e políticos que foram fruto de reivindicações, além de conseguirmos exercer qualquer função com dignidade.
O papel da mulher é muito relevante, não só na família, como no mercado de trabalho. A cada dia crescemos ainda mais intelectualmente, socialmente e profissionalmente
Mas, sem dúvidas, a mulher, mesmo com todas as conquistas alcançadas, ainda enfrenta grandes dificuldades e estamos amadurecendo em nossas batalhas. Vislumbro um futuro próximo que seja ainda melhor e mais justo.
- REBECA PEIXOTO LEÃO ALMEIDA GONZÁLEZ – ADVOGADA DA UNIÃO – 27 anos
– Como foi a escolha pela carreira?
A escolha pela AGU aconteceu ainda na época da faculdade, quando despertei meu interesse pela Advocacia Pública. Eu via na AGU a possibilidade de concretizar o sonho de exercer um cargo público e ao mesmo tempo de poder desempenhar um papel de protagonismo nos processos judiciais que envolvem as políticas públicas do Estado e, assim, atuar na defesa dos interesses de toda a coletividade.
– O que mudou na sua vida depois de se tornar Advogada Pública Federal?
Minha vida mudou muito depois que me tornei Advogada Pública Federal. Ao tornar-me Advogada Pública Federal, conquistei minha independência financeira e minha realização profissional. Por outro lado, tive que mudar minha residência, pois inicialmente fui lotada para exercer o cargo em outro Estado, longe dos meus familiares. Contudo, essa mudança somada à responsabilidade que assumi perante a sociedade enquanto advogada do Estado acabaram por me engrandecer como pessoa e como profissional.
– Qual a importância da Advocacia Pública Federal para o País?
A Advocacia Pública Federal exerce função de extrema importância para o resguardo do Estado Democrático de Direito. A AGU é responsável por garantir a constitucionalidade e a legalidade na atuação da Administrativa Pública Federal. Compete à Advocacia-Geral da União o dever de harmonizar as políticas públicas propostas pelos representantes do povo com os ditames legais. É por meio do papel de consultoria e assessoramento exercido pela AGU que se garante concretude e efetividade aos programas governamentais. Outro papel de fundamental relevância é a representação judicial da Administração Pública Federal direta e indireta. O Advogado Público Federal deve defender em juízo o interesse das pessoas jurídicas de direito público, o resguardo do patrimônio público e da moralidade pública. Portanto, a Advocacia Pública Federal exerce papel ímpar na proteção dos interesses de toda a coletividade.
– Quais conquistas devem ser comemoradas nesse Dia Internacional da Mulher?
A condição da mulher na sociedade contemporânea infelizmente ainda é marcada pela desigualdade. Sendo assim, acredito que o Dia Internacional da Mulher, mais do que uma celebração, deve servir como um lembrete para a sociedade quanto à necessidade de valorização do sexo feminino e da abolição de qualquer forma de opressão e de tratamento desigual.
– Como vê o tratamento das mulheres nas carreiras jurídicas?
No Brasil, a meritocracia inerente ao ingresso nas carreiras jurídicas públicas tem garantido o amplo acesso das mulheres aos mais relevantes cargos jurídicos com garantia de igualdade salarial. Assim, tem crescido exponencialmente o número de mulheres aprovadas em concursos públicos. Entretanto, os altos cargos nas carreiras jurídicas públicas ainda são, em sua maioria, exercidos por homens. Em realidade diferente das carreiras públicas, na iniciativa privada, as advogadas ainda possuem salários mais baixos que os homens, bem como possuem papel diminuto na política de classe. Desse modo, a valorização da mulher por meio de ações que garantam mudança do atual cenário e a igualdade de condições no exercício das carreiras jurídicas é uma questão premente.